domingo, 31 de março de 2013

Estádios brasileiros ainda têm nomes de ditadores



Depois de 49 anos do golpe de 1964, influência ainda é sentida no esporte


RIO — Quase 50 anos após o golpe militar de 1964, a lembrança do passado de repressão ainda se faz presente por toda a parte na sociedade brasileira. Dizimadas por assassinatos, sequestros ou maculadas pela violência da tortura, muitas famílias ainda convivem com um sofrimento que renasce na repetição dos nomes de governantes coniventes ou omissos diante dessas práticas, que violam a cidadania e os direitos humanos. Especialmente quando seus nomes estão associados à explosão do esporte, batizando estádios, ginásios e complexos poliesportivos em geral, com homenagens custeadas pelo dinheiro público.

Médici (E) utilizou a seu favor a popularidade da seleção de 70
No estado de Sergipe, que não mantinha qualquer vínculo especial com o ditador, está localizado o Estádio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, situado em Itabaiana. Inaugurado em 1971, a arena só viu o time da cidade ser campeão uma vez, 35 anos após a conclusão da obra, em 2006. Há alguns anos um movimento no legislativo estadual tenta, sem sucesso, modificar o nome da arena.  Um movimento semelhante obteve sucesso na região de Bragança Paulista. Localizado na pequena Atibaia, o Estádio Salvador Russani já foi motivo de revolta para a Capital do Morango quando se chamava João Batista Figueiredo. 

No ABC Paulista, a prefeitura de São Bernardo do Campo reverencia o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, nome do Estádio Municipal, mais conhecido como Baetão, onde jogam Esporte Clube São Bernardo e  Palestra. Mesmo com grama artificial, é utilizado para a disputa de competições de outros esportes, como hóquei e rugby, além de ser sede de um dos grupos da Copa São Paulo de Futebol Júnior, que acontece em janeiro.

Governadores da Arena também são lembrados

Há situações em que o populismo e a demagogia disfarçam a homenagem sem impedir que os reverenciados tirem proveito político da circunstância. Construído no tempo em que Ernâni Sátyro que governava a Paraíba, o estádio de Campina Grande ganhou o seu nome e ainda a alcunha de Amigão. Palco dos jogos da Campinense, a obra foi entregue pela metade e jamais concluída. O mesmo aconteceu no José Américo de Oliveira Filho, o Almeidão, erguido no mesmo período em João Pessoa. 

No entanto, um dos casos mais escandalosos está localizado em Minas Gerais e receberá jogos importantes
Magalhães Pinto é o nome por trás Mineirão
do Mundial de 2014. O Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, reverencia a memória de um dos principais artífices do Golpe Militar e fez fortuna após sua consolidação, ao fundar o Banco Nacional.

Outros exemplos pelo país mostram que os governantes de todas as esferas têm o hábito de prestar homenagens a seus superiores em busca de gratidão que, politicamente, significa a liberação de mais verbas. Mas, passadas as necessidades do momento, é preciso respeitar o sofrimento das vítimas de um passado do qual o Brasil não se orgulha e corrigir as distorções produzidas.

A Copa do Mundo é uma oportunidade boa para acertar as contas com a história. Afinal, se o país está mobilizado para superar um trauma meramente esportivo, o de 1950, deveria ter mais atenção e sensibilidade para cicatrizar as feridas profundas abertas 14 anos depois. Especialmente porque o Mundial coincide com o cinquentenário da data.

1 comentários:

Excelente post Stefano. Oportuno e objetivo.
Abraço do Sul.

Postar um comentário